sábado, 16 de outubro de 2010

Crowd computing: a revolução da computação colaborativa

Surge um conceito que, segundo especialistas, representa um complemento à nuvem e é baseado no uso de inteligências coletiva e artificial. Para o pesquisador da UFF Carlos Nepomuceno, a abordagem marca a utilização de ferramentas que vão revolucionar o modo como o ser humano interage com a informação.

Não é apenas o conceito de cloud computing que está em evidência. Defendido recentemente pelo docente Srini Devadas, do Michigan Institute of Technology, o termo batizado de "crowd computing" traz uma nova abordagem para o universo da tecnologia. Segundo Devadas, a "crowd computing" é um complemento à computação em nuvem e é descrita como bilhões de humanos ligados à internet, analisando, sintetizando e criando diversos dados por meio da relação máquina cerebral e computadores. No Brasil, o novo conceito ainda não está tão difundido como o de cloud computing, mas já vem despertando o interesse dos estudiosos.

"O termo 'crowd' significa multidão, e 'crowd computing' representa uma produção em massa por meio da colaboração. Dentro desse conceito, temos algumas vertentes de interpretação e aplicação", explica o pesquisador da Universidade Federal Fluminense (UFF) Carlos Nepomuceno.

"Tivemos, até hoje, três revoluções da informação, a primeira foi a fala, a segunda foi a criação da escrita, e a terceira foi a chegada do computador. Todas elas modificaram a forma como nos relacionamos com a informação. A próxima revolução informacional é a que estamos começando a experimentar, e ela traz a interação entre pessoas e robôs que serão capazes de decidir sozinhos a partir do que aprenderem com os humanos", enfatiza Nepomuceno, que também é professor do MBA de Gestão de Conhecimento do Centro de Referência em Inteligência Empresarial (Crie) do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-graduação e Pesquisa de Engenharia (Coppe) da Universidade Federal do Rio de janeiro (UFRJ).

A proposta da "crowd computing" não é substituir as pessoas por máquinas, mas unir inteligências artificial e humana para criar soluções facilitadoras para a vida moderna. Entre as práticas ou produtos, alguns já aplicáveis e outros ainda em estudo, estão os programas capazes de responder e-mails e de criar padrões sofisticados de busca de acordo com o estipulado por cada usuário; os sistemas computacionais que abrem e fecham acostamentos de estradas de acordo com o fluxo de veículos; e a criação de planos de evacuação e socorro a vítimas de desastres naturais com base apenas em diálogos entre internautas e no grande número de dados disponíveis na nuvem.

Abordagem ampla
O conceito aplica-se ainda a outras vertentes. "O uso de plataformas que sustentam comunidades online de troca de conhecimento também pode ser chamado de 'crowd computing'. As diversas redes sociais, por exemplo, são espaços que estimulam a inteligência coletiva", acrescenta Carlos Nepomuceno, que também é consultor em projetos de implantação de redes sociais para diferentes instituições, entre elas, a Petrobras.

E a aplicação do conceito não termina aí. A "crowd computing" também é utilizada para denominar o uso compartilhado de memórias de computadores. "Você disponibiliza arquivos na sua máquina e, a partir de um servidor que identifica onde estão os arquivos de todos, outras pessoas podem fazer uma busca, entrar dentro da sua máquina e baixar aquela informação que você liberou", explica Nepomuceno.

"Outra possibilidade é o uso coletivo dos processadores. Quando alguém precisa de um processamento muito grande para determinada atividade, que só um supercomputador poderia fazer, outras pessoas podem ceder partes do processamento de suas máquinas, quando elas não estiverem sendo utilizadas e, assim, essa soma de computadores executam a atividade que aquela primeira pessoa precisava processar", completa o professor.

Crowd computing e inclusão digital
Ao se refletir sobre "crowd computing", uma computação descrita para atender e conectar bilhões de pessoas, uma pergunta inevitavelmente entra em questão: como falar em robôs e em uma multidão conectada à internet quando a maioria dos cidadãos ainda estão excluídos do universo digital?

"Temos hoje no mundo sete bilhões de habitantes, sendo que apenas 1 bilhão usa ou já usou alguma vez a internet. Ou seja, temos seis bilhões de pessoas que não têm acesso ao computador. Toda vez que temos uma revolução da informação, quanto mais a pessoa não usa as novas ferramentas que essa revolução traz, mais ela fica excluída, sem chances de avançar, trocar informações e ampliar seus senso crítico e poder de decisão", enfatiza Carlos Nepomuceno. "Alguns chamam essa revolução, que está começando a aparecer, de web 4.0, web inteligente, ou web dos robôs. Independente da denominação que se dê, essa mudança representa um novo momento muito importante para a humanidade. E é por isso que precisamos rever outros conceitos, como o de democracia. Não há democracia se houver excluídos", conclui Nepomuceno.

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